Há nove anos segui para um outro axé, deixando para trás
tudo o que eu cresci acreditando. Rompi a bolha na qual eu fui criado e decidi
trilhar um novo caminho. Foi um dos períodos mais difíceis da minha vida.
Passei por todas as fases, da confusão a reflexão. Hoje, olhando para o
passado, eu digo que faria tudo de novo, pois isso me construiu como pessoa,
mas se eu não tivesse sido forte e sido amparado, com certeza eu teria
desistido da minha fé no Orixá.
A “luz” do conhecimento, pode te cegar, pode te deslumbrar e
eu que tinha saído de uma casa, de um axé pequeno e muito fechado, quase cai no
erro de me achar parte da “verdade absoluta”. Bajulei os mais velhos, aceitei e
baixei a cabeça para muita coisa que ia contra minha educação e valores, até
que um dia, desabafando com uma pessoa muito sábia, ela me disse que é e sempre
seria assim, pois aqueles que ditavam regras já estavam apoiados e bem “assentados”
em suas posições e o que eu poderia fazer é não ter a mesma postura que eles.
Passei meses e meses, fechado em minha vida, sem saber o que
eu iria fazer, até que em 2011, decidi que iria me libertar. Muita gente me disse
que eu era louco de ir contra aos “ditadores do candomblé”, que eles iram me
destruir, pois a linha de pensamento que eu estava decidido defender, iria
contra a hierarquia tirana que os mantém no poder. Passou-se dois anos e as “ideias
furadas do rapaz que nunca vai ser nada”, como eles diziam, são compartilhada
por centenas de pessoas, meu blog tem mais de 100.000 acessos por mês, visito
casas que tem as minhas frases gravadas em suas paredes. Recebo diariamente
cerca de 5 a 10 e-mails de pessoas que confiam a sua história a mim e me pedem
ajuda.
Hoje eu vejo que eu paguei carro pelo preço da liberdade,
mas valeu a pena, cada lágrima, cada desaforo que me falaram durante esse
período, pois hoje eu me sinto pleno e realizado. Não precisamos de mentiras,
nem de menosprezar ninguém para nos tornarmos melhores. Basta seguir seu
coração e não perder os seus valores. Respeito quem aceita viver no “Manda quem
pode, obedece quem tem juízo”, mas partilhar disso eu não vou mais.
Obrigado Odé, obrigado família que sempre me apoiou e esteve
do meu lado.