O Candomblé é uma religião de resistência e foi construída sobre a base firme da confiança, fidelidade e resistência, com o passar do tempo o fato das perseguições diminuírem, apesar do tamanho do preconceito que ainda existe, acredito que fomos nos distanciando do verdadeiro sentido de nascer para o Orisá, que é ter a oportunidade do autoconhecimento (memória ancestral x nossas escolhas x comunidade), uma ferramenta poderosa para edificarmos um ser humano mais forte, com raízes firmes, prontos para enfrentar qualquer tempestade.
E a magia da nossa fé é que essa é uma oportunidade única, mas que nos acompanhará por toda vida, do tempo de iyáwò até ao sacerdócio e toda vez que nos distanciamos do verdadeiro sentido da fé, o Orisá vem e nos mostra o caminho certo, dando a graça de corrigirmos a nossa postura, reavaliarmos a vida, as amizades e o nosso papel perante a comunidade. Esse é um processo que costuma ser bem doloroso, pois a vaidade e o ego insiste em nos puxar para trás, engessar nossas decisões e nos prender em relações, ambientes e comportamentos tóxicos.
Aprendi com tudo isso que, por mais que o tempo mude, algo é intocável, o nosso juramento, aquele que fazemos perante ao Orisá, seja com palavras ou atos pelos quais passamos durante as “obrigações”, as juras determinam o poder do asé em cada passo e não pense que será tarefa fácil fazer jus a cada palavra, provações aconteceram, decepções também, porém há algo que não tem preço, o “encanto”, a nossa capacidade de tirar de cada crise uma lição, de não perdemos a alma nem a confiança do Orisá, pois obstáculos lapidam quem seremos amanhã e seleciona o que herdaremos do divino.
Em 2017 eu vivi grandes emoções, aprendizados valiosos, mas não posso negar uma coisa, todos os fatos que me machucaram eu fui avisado pelo Orisá, em alguns momentos eu deixei a emoção me cegar, mas é assim mesmo, meu papel é ter fé não apenas no que está no orún (céu), mas principalmente o que mora aqui, o próximo.
Reafirmo meu amor pelo Orisá, pelo Candomblé e principalmente pelo povo de santo, que erra, faz birra, mas que é uma gente de coração grande e precioso.
Obrigado 2017, Obrigado Orisá, Obrigado asé! Principalmente pela maturidade de perdoar, olhar com os olhos de pai e dizer:
"Eu te amo, pois acima da hierarquia que existe no Candomblé, você é um ser humano e comete erros, assim como um dia eu cometi e por isso eu te entendo e não desisto de você!"
Com carinho, desejo um excelente 2018 a todos!
Bàbá Diego de Odé