A palavra Igbá quer dizer cabaça, e hoje, dentro do nosso
culto também chamado de assentamento, lugar onde é guardado o orò (segredo) do
nosso Orixá, e tem toda uma simbologia para o povo de santo, para entendermos
essa associação entre cabaça e assentamento, devemos lembrar que na África as
cabaças são usadas para assentar o Orixá, e por conta das adaptações, acabamos
por utilizar utensílios de louça e barro, por sua durabilidade.
E vamos ver algumas questões que o envolve:
O Igbá é meu ou do Orixá?
O assentamento é a sua ligação com o Orixá, ele guarda as
coisas do seu fundamento, do seu axé, ou seja, é dos dois, mas a responsabilidade de zelar e cuidar é inteiramente sua, assim como trocar a água da sua quartinha, e arriar comidas secas, a aliança com seu santo, não se faz apenas de fazer o santo, mas de sua atenção e cuidado com ele e as coisas que são consagradas.
Se eu sair da casa, meu igbá é devolvido?
Cada casa tem seu costume, no Egbé L’ajô tomamos a seguinte
postura, e o yawò é avisado antes de fazer santo, e dentro de um ano ele não
aparecer ou justificar a ausência, desmontamos o igbá, e os oros do orixá
(segredos), são guardados dentro do assentamento do Orixá da casa, e a louça é
embrulhada e devidamente resguardada. Antes disso o filho de santo é alertado
três vezes. Acho que na vida tudo é questão de bom senso, por ambos, Pai, que
tem a responsabilidade de zelar pelo Orixá e o filho, que se comprometeu com o
axé e com seu Orixá.
Quanto igbás nós temos?
Existem três tipos de Igbá, o Igbá Orixá, Igbá Ory e o Igbá
Odú.
O Igbá Ory: É onde a “sua cabeça” come, não são todos os
axés que o montam, como assentamento fixo.
O Igbá Orixá: É onde somos iniciados, nossa ligação, e Ifá
determina se será um dois ou mais Orixás assentados.
O Igbá Odú: Dentro da nação ketu, atualmente, muitas casas
tem o igbá odú assentado, seja Obará, Oxê ou outros, essa é uma tradição do
culto a Ifá, e deve-se tomar cuidado ao assentar essas energias, pois são
forças do destino e os fundamentos diferem do culto a Orixá.
Em caso de morte, o que fazem o igbá?
Isso é determinado por Ifá, durante os ritos do axexê, já
ouvi pessoas dizer que não se pode ficar com igbá de quem já morreu em casa,
para mim isso é um grande mito, pois se o culto ao Orixá é ancestral, porque
temos que despachar, se o Orixá continuará sendo cultuado? Eu acredito que essa
escolha é do Orixá, se quer ou não continuar na casa.
Para concluir essa matéria, gostaria de fazer um adendo:
Hoje a frase que mais ouvimos é os yawòs quando saem da casa
de santo dizer desrespeitosamente: “O santo tá na minha cabeça, e não em
pratos...”, concordo, mas se o igbá não é importante, porque o faríamos? Esse é
um assunto que não é muito discutido, pois os antigos nem falavam sobre isso,
você nascia e morria na mesma casa de axé. Hoje tudo é muito rápido, faz santo
e em menos de um ano já saem da casa, sem ao menos compreender o que é Orixá, ou
então, não conseguem ter uma postura que condiz com o axé, por isso eu digo,
antes de iniciar, ou mudar de axé, tenha uma conversa franca com seu zelador,
deixe essas questões claras, para que posteriormente não ocorra nenhum
problema.
Um grande abraço e até a próxima!
4 comentários:
Grande explicação, quero parabenizá-lo principalmente pelos comentários finais.
NÃO É SOMENTE OS YAWÓS QUE FALA QUE O SANTO ESTA NA SUA CABEÇA E SOMENTE PRATOS, TEM MUITOS DIRIGENTES QUE FALAM ISSO QUE SÃO MERAS LOUÇAS, EU NO MEU ENTENDER NÃO É BEM ISSO QUE SE FOSSE NA TERIA PRA FAZER CORRETO. FALO DOS DIRIGENTES PQ ACONTECEU COMIGO. QUANDO FALAM ISSO É UMA DOR IMENSA, VC OUVIR DE SEU DIRIGENTE ISSO.
Eu e mais de quinze pessoas iniciadas, dentre ogãs, ekedis, egbomys e yawôs, tivemos abandonar um terreiro de candomblé aqui em Salvador (Estrada Velha do Aeroporto), por desconfiança total e por semos explorados financeiramente. QUem tentou conversar com a zeladora não conseguiu sequer dialogar. Todos tiverem que fazer um assentamento novo em outra casa.
Muita sabedoria no textos ..parabéns!
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