A cada dia que passa, entendo mais a frase que os antigos diziam, “A vida de pai de santo não é fácil”. Cresci ouvindo que é uma vida de dedicação e ingratidão, de chegadas e partidas. Estou à frente do Ègbé L’ajò há sete anos, vivenciando o outro lado e hoje eu digo, como ser filho de santo é bom, chegar à casa de santo, fazer sua função e pronto.
Nós zeladores de Orisá, não cuidamos apenas do "santo", cuidamos das almas de seus filhos. Nosso juramento diz que devemos cuidar dos Omo-orisá´s como fossem nossos próprios filhos, enxugar as lágrimas quando necessário, sorrir junto, vibrar com cada vitória, assim como muitas vezes dá aquele “puxão” de orelha.
Lidamos diariamente com o mais profundo do complicado "existir", com a natureza bruta que mora dentro de casa um, somos ouvintes e ao mesmo tempo defensores do invisível. Nessa minha trajetória aprendi lições preciosas e a mais importante é que ensinar a Fé é praticamente impossível, o máximo que podemos fazer é direciona-la e isso se torna ainda mais complicado quanto não temos uma bíblia ou qualquer outro meio nos endosse. Candomblé é aprendido de maneira oral, passado do mais velho para o mais novo, em nossa religião o saber mora em um olhar, uma ação, cada “pintinha” branca em um iyáwò representa milênios de tradição.
Como filho de asé, assumo que muitas vezes esquecemos que nosso pai ou mãe, é divino em sua humanidade, que tem problemas como todo mundo, ri, chora, age sem pensar, mais que não pensou duas vezes em abrir sua casa para nós, sem saber de onde viemos e mesmo muitas não conhecendo todo o nosso passado, ainda sim confiou que poderíamos fazer diferente e esse voto de confiança, no mundo de hoje, é raro.
Assumir o papel de um bàbálorisá é algo muito sério, pois somos representantes do Orún, cada ato é assistido por nossos ancestrais e acima de tudo não podemos esquecer que mesmo mais próximos do Orisá, ainda sim somos meros servos.
Texto: terradosorixas.blogspot.com.br
Texto de 2014
Bàbá Diego de Odé
11 4141-0167
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