Há alguns anos, a saída ou briga com um filho me deixava triste, acamado, chegava a vida dias e dias chorando e me perguntando o motivo de uma pessoa que eu fiz o santo ou dei obrigação, sair da casa falando um monte ou inventando histórias. Até que um sábio zelador me disse assim:
- Meu amigo, filho de santo não é parente ou para sempre, de dez apenas um ou dois iram permanecer, pois esses são os verdadeiros filhos do Orixá e do seu axé, os demais muitas vezes nem sabem o que estão fazendo, nem o valor daquilo que carregam, se eles não amam nem a si mesmos, como você espera que amem e tenham algum tipo de consideração a você ou ao Orixá. Faça, cante e tenha fé, mas não espere nada em troca!
E isso ficou na minha cabeça, demorou até eu assimilar essas palavras e com o tempo fui vendo, com fatos que são verdadeiras. Por isso temos que ser criteriosos, não podemos fechar as portas para ninguém, mas isso não quer dizer que devemos ser idiotas ou passivos a tudo. Você zelador que está sofrendo com isso, tome as rédeas, a casa é do Orixá, mas se ele confiou a você o sacerdócio é por que acredita na sua capacidade de gestão. Se alguém está te causando problemas, sente e converse, se não há jeito, convide para se retirar, não permita que a ordem seja quebrada por quem só quer “causar”.
Não alimente inimigos ocultos, falsidade nem confusão. Na casa do Orixá deve haver paz e harmonia, não se preocupe com quantidade, pois se o Orixá estiver do seu lado, um filho sai e três entram, pode confiar na minha palavra. Certa vez uma filha de Oxum Opará que tinha seus dois anos de iniciada, se virou contra mim, dizendo que preferia os outros, não aguentando a loucura eu mandei ela “caçar urubu” no mesmo dia uma linda moça sentou na minha mesa e a dúvida dela era: Eu sou de Opara Pai? Resultado, um mês depois estava fazendo esse caminho e até hoje ela me dá orgulho. Então eu vou dizer que Opará não existe?
Espero que esse texto ajude a todos que estão passando por essa situação, que não deveria, mas que está cada vez mais comum.
Um comentário:
Pai Diego, lendo sua matéria, me fez pensar que... antigamente, as pessoas se iniciavam no Candomblé, por motivos de saúde, estando desenganadas, ou quando "bolavam", dando uma certeza da real necessidade de ser um iniciado, e o alívio a esse sofrimento que gerava a gratidão e alimentava a fé... Hoje parece ser "moda", busca-se tudo... fama, dinheiro, sucesso, relacionamento amoroso, enfim... motivações baseadas no "ego", e como isso é fruto de merecimento, quando não se atinge esses objetivos, fica fácil maldizes a "casa", a "mão do zelador". Então grande culpa dessa situação esta também no comércio que se instalou na religião... onde aceita-se "fazer o Santo" dessas pessoas motivadas pelo Ego, em troca de grandes somas de dinheiro. Isso faz o Candomblé hoje refletir exatamente o que a nossa sociedade.
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