Nós do Candomblé tratamos de vida e morte, de começo e fim, pois acreditamos
que são dois lados de uma única força, Olorun (O Criador). Um omo-orisá nada
mais é que um “renascido”, ou seja, uma pessoa que teve a oportunidade de reconhecer
o valor que tem a natureza e o poder do asé em sua vida, por isso todo
fundamento que é aplicado dentro da casa de asé é baseado no poder elementar proveniente
do Orún, mas e quando se trata de duas vidas? E quando durante os atos
iniciatórios a iyáwò(iniciada) espera um bebê? É sobre isso que vou tratar
hoje.
O Abiasé (Nascido com poder) é um dos mistérios mais lindos que existe em nossa
religião, porém esse assunto deve ser tratado com muito critério, não inicia
uma mulher grávida sem que haja o “chamado” do Orisá, se ela vai se iniciar
apenas “por amor”, essa iniciação pode aguardar o termino do resguardo, pois
estamos tratando de uma questão de “arbítrio”, a criança está tendo seu futuro
comprometido com uma fé, sem mesmo ter recebido o emí (sopro de vida), e isso
não pode ser tratado de qualquer forma. A minha opinião é, se é vontade do
Orisá, ele sabe de todas as coisas e apoio a iniciação de mulheres gestantes,
mas se é apenas vontade dos humanos, por vaidade, eu não sou de acordo. E se a
mulher não sabe que está grávida? Então é a determinação do Orisá e tenho fé que
Olorun assim determinou, a nós cabe realizar todos os devidos atos para a
proteção energética dessa mãe de dessa criança.
Serão duas vidas, por isso o cuidado precisa ser em dobro e Osún é o Orisá que
vai acompanhar essa gravidez e proteger, assim como Ibejí, os Orisás gêmeos que
são guardiões da infância. Diz uma itán que havia uma mulher que queria muito
engravidar e foi até Osún lhe pedir a benção, pois já tentara durante anos sem
sucesso. Osún então ao ver a tristeza da mulher, se revela e lhe dá uma
ekodidé, uma cabaça com água fresca e cristalina, um pouco de sabão da costa e
dois “obis”. Osún a manda lavar a barriga com a água e o sabão assim que
retornasse a sua casa e durante sete dias que carregasse a ekodidé na testa,
sendo que apenas no sétimo dia ela deveria enterrar um obi no pé de Iroko e o
outro deveria deixar sobre a terra, chamando por Ibejí. Assim fez a mulher, então
na lua cheia (Oṣupa kikun) um homem aparece em sua porta, era Esú que lhe
trouxe a notícia que chegaria uma criança, nascida com asé e o amor de Osún.
Assim nasce o primeiro abiasé.
Nessa
itán reconhecemos atos que são feitos durante a iniciação, por isso
consideramos a criança também iniciada, mas não a isenta de tomar suas
obrigações, afinal quem
cumpriu todos os sacrifícios foi a mãe e não o filho, que precisa também possuir
seu Bara (Esú individual), seu igbá (recipiente sagrado) e todos os demais
fundamentos que o individualiza na religião dos Orisás, mas uma marca sempre será a presença de Osún
na vida dessa criança.
Espero ter esclarecido um pouco esse assunto que é muito complexo, mas que é
uma verdade na maioria dos asés de origem nagô, contudo, cada família de asé
seguirá uma ritualística, mas o que importa é proteger essa vida, cuidar e
formar bons cidadãos que tenham uma educação religiosa que enfatize o amor, a
compreensão e o respeito.
Muito asé,
Babá Diego de Odé
#abiase #candomble #orixa #babadiegodeode #egbelajo
Um comentário:
A sua Benção!
Gratidão.
Axé
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