A morte é vista pelos
candomblecistas como uma passagem, porém os ritos fúnebres são complexos e
exigem do sacerdote (babálorisá) grande preparo, pois são invocados forças primordiais.
São elas: Esú (Orisá mensageiro), Iku (Orisá da Morte), Obatalá (Orisá da
Vida), Oiá (Orisá que guia os Mortos) e Egungun (Orisá da Ancestralidade). Após
o falecimento do omo-Orisá (filho de santo), são preparadas as comidas específicas
deste momento (ebós), além da terra, que vai receber o corpo (ara).
Para isso, contamos com pessoas que
possuem diferentes cargos em uma casa de santo. No caso da organização do rito
fúnebre, precisamos do trabalho e asè do babálorisá (ou iyálorisá), iyálasé (ou
babálasé), Ojé, Iyámoro, Iyádagan, Iyájibudá. É importante ressaltar que estes
cargos são dados pelo orisá para que estas pessoas possam exercer funções de liderança,
a fim de auxiliar o pai ou mãe da casa. Desta forma, elas respondem ao babálorisá,
porém possuem posições de sacerdócio dentro da comunidade. Outro dado
importante, é que em muitos casos os cargos podem ser recebidos por homens
(Babás) e mulheres (Iyas), mas existem exceções nas quais as funções só podem
ser realizadas pela energia feminina ou
masculina.
Após o enterro, seguiremos
mais sete dias nos quais a comunidade se reúne para entoar cantigas e rezas
pela alma do irmão que retornou para a terra dos ancestrais, o Orún. Existe a
obrigatoriedade do uso do branco, pois significa a eternidade e igualdade,
símbolos fortes e fundamentais do Candomblé. A cor preta não possui um
significado negativo, apenas representa a terra; desta maneira, se o objetivo
de todos os atos religiosos é a alma se voltar para o orún, pois na terra seu
papel já foi cumprido e agora começa um novo ciclo, os iniciados na religião devem
evitar o uso desta e de outra cor em suas vestimentas.
A morte em nossa religião, como já dito,
possui um caráter cíclico. Desta maneira, ela pode também ser considerada um
renascimento, pois Ikú e Obatalá estão presentes em ambos os momentos. Conceito
que reforça ainda mais o uso do branco, pois é o renascimento do Omo Orisá para
o orún e todo nascimento é celebrado com a cor de Oxalá. Retornar para a terra
dos ancestrais, para os candomblecistas, não significa aguardar o momento de
voltar para uma vida na terra (aye), pois não cultuamos o conceito de vidas
pregressas.
O Povo de Santo, como é
popularmente chamado os adeptos da religião, acredita que viemos de uma “lama
primordial”, que é resultado dos que nasceram e morrem antes de nós. Por este
motivo, cada um tem a missão de resgatar dificuldades (como por exemplo os defeitos
pessoais) e evoluir aquilo que trazemos de bom desta lama (qualidades), para
quando retornarmos e de nossa “lama” forem criados novos seres humanos, eles
sejam melhores, mais evoluídos e com menor quantidade de resgates. Desta
maneira, a principal responsabilidade de uma pessoa iniciada para o Orisá é a
de devolver à terra uma lama que possa formar melhores indivíduos.
Babá Diego de Odé
[1] Texto escrito por Diego Guimarães,
estudioso de religiões Africanas e babalorisá do Egbe L’ajó, casa de candomblé
da nação Ketu, com sua sede fundada na cidade de Itapevi – SP no ano de 1964,
pela Iyalorisá Minervina de Ogun.
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