Em toda fé existe o "despertar", que vem do latim "expertos", de esperto, “o que tudo percebe, atento, vigilante”. Para nós do candomblé isso ocorre no período e sete anos de iyáwò, mas para alguns pode acontecer até mesmo depois da obrigação de odún èje. Acredito que não exista uma receita, um momento certo, mas sim a sua dedicação em encontrar as respostas que darão sentido à sua vida religiosa e, consequentemente, à sua vida material.
A maioria de nós entra no candomblé pela necessidade, mas só permanecemos se nos empenharmos, com sacrifício e amor, silenciando muitas vezes a sua voz interior para ouvir a determinação do orisá, isso se chama fé. E nessa estrada vamos colhendo lições importantes sobre princípios, respeito, valor ao silêncio, da servidão, da fraternidade e principalmente humildade. Tudo isso o candomblé tem de sobra a nos ensinar. Mas será que na atualidade estamos seguindo o caminho certo?
Como minha promessa é sempre aprender, descobrir e dividir, o que eu vejo hoje é a inversão de todos esses valores acima, como por exemplo:
- Iniciação (ìbèrè): Ao invés de um momento de recomeço, os iniciados estão em busca de facilidades, pular etapas, e são empurrados em uma fogueira de vaidades, que gera essa busca pelo status constante que estimula a concorrência: quem tem a roupa ou o igbá mais bonitos. A culpa disso é toda nossa (zeladores).
- Respeito (ìbòlá): À todos, do mais velho ao mais novo, e não apenas a quem você tem "afinidade". Respeito não quer submissão ou medo e sim o entendimento que somos todos parte de um único corpo espiritual chamado Olorun (criador).
- Silêncio (dáké): Ouvir é a forma mais eficaz de aprender, mas o grande problema é que os iniciantes estão sem paciência, acredito que isso acontece pelo excesso de informações que recebem pela internet e redes sociais e acabam ficando preguiçosos, querem tudo mastigado, e com isso deixam de vivenciar fases importantes.
- Servidão (oko-erú): Entender que estamos nesse mundo para servir, no sentido de contribuir e não de escravidão, como muitos dizem. Lembre-se que reverenciamos e cuidamos da fauna, da flora, dos minérios, e tudo que a natureza nos presenteou.
- Fraternidade (ìbásòré): Somos TODOS irmãos, independente de nação, de casa de asé, e até mesmo de religião. Ser fraterno apenas com quem você tem afinidades não é nenhum desafio, ou seja, não te ajuda a desenvolver a espiritualidade.
- Humildade (irèlè): Em tudo que fizer, nos detalhes, no olhar, no sorriso, nas palavras e principalmente nas atitudes. A humildade não está na roupa que você veste, ou na casa que você mora e sim nas atitudes.
É sempre muito válido relembrar os valores acima para não nos perdermos, pois as decepções, as mudanças de rumo e o mundo lá fora não tentam desvirtuar aqueles que carregam a chama da fé, assim é essa constante guerra espiritual em que vivemos e, como filhos de orisá, estamos no meio, entre o orún (céu) e o aiyè (terra), iniciados aos elementos que compõe a vida, temos a responsabilidade de zelar pelo asé que mora em nós, no outro e em tudo a nossa volta.
Faça a sua parte, mas quando puder ajude o outro a fazer a parte dele também, afinal muitas vezes o orisá só terá as suas mãos e boa vontade para agir!
Atenciosamente,
Bàbá Diego de Odé
Nenhum comentário:
Postar um comentário