segunda-feira, 14 de março de 2022

Sobre abikú

 Salve, salve leitores do Terra dos Orixás, a muito tempo eu não escrevia, mas decidi voltar a dividir o meu cotidiano e pesquisas com vocês, ando pensando muito sobre o sentido e propósito que existe em estar aqui, na terra, o que estamos fazendo com o dom que Olorun nos deu. 


Hoje o dia foi dedicado a compromissos fora do asé, e durante o trânsito, alguns assuntos surgiram quase que espontaneamente, e eu amo essa conexão com os meus filhos, de pensarmos sobre os mesmos temas e surgiu uma questão bastante falada, mas pouco entendida, que é o abikú (abi: nascer, ikú: morte ou morrer). Entendo que todos nós já nascemos para a morrer, no sentido terreno, pois acredito na eternidade da alma, mas o que seria o abikú? 

Todos nós nascemos com um propósito individual e um coletivo, a diferença do abikú é que nasce com um sentido muito claro, retornar o mais rápido possível para sua comunidade do orún (ègbé orún), e vem programado a lembrar disso, seja já no nascimento ou nos primeiros anos de vida. 

Eu acredito que cada um de nós já faz parte de uma comunidade no céu, onde há família inteiras e a nossa busca aqui é sobre a dualidade, o entendimento e equilíbrio entre o EU e o NÓS, que começa já na nossa fecundação, com o masculino e o feminino, e toda a carga ancestral que recebemos de ambas as partes. É interessante o número de “abikús” que surgiram na última década e vários problemas, inclusive a depressão é associado a esse fenômeno, o que é muito perigoso, essa banalização de algo tão sério na espiritualidade, que sim, existe para nós, mas que há uma série de averiguações que devem ser feitas a esse respeito.

Existem mistérios a serem desvendados e entendidos, mas acima de qualquer coisa, o que construímos aqui, seja em poucos anos ou muitos, é o que vale para a ancestralidade que estamos construindo, pois vejo muita gente preocupada com as dores que estão carregando e poucos se atentando ao que vão deixar como marca nesse mundo. 

O estudo sobre abikú vai continuar, e a cada descoberta, eu venho aqui e dividido com vocês.

Até amanhã elefantinhos!

segunda-feira, 27 de dezembro de 2021

Generosidade Espiritual - Oninurere

Generosidade é a virtude de quem compartilha por bondade, é uma plavra de origem indo-europeia que siginifca gerar, fazer nascer. Ou seja, a generosidade espiritual é a capacidade de dividir o que se sabe, as experiências espirituais e “ser luz” no caminho do outro.

Uma das primeiras coisas que falamos aos iyáwò (noiva, iniciados no mistério do orisá) é que eles serão fonte de luz no caminho, e o que isso quer dizer? Que serão representantes do orisá, pois carregam o despertar da divindade para o tempo que estamos vivemos. Obviamente há muita coisa que se reproduz da ancestralidade, como a identidade visual, o dialeto, o comportamento, mas tudo isso voltado ao entendimento do que se carrega dentro de si, afim de produzir na própria existência e de sua comunidade transformações positivas. 

Se os nossos ancestrais não tivessem tido generosidade, não teriam divido o conhecimento das suas divindades com a comunidade onde estavam introduzidos, e provavelmente não teríamos o candomblé, nem o conhecimento que essa cultura nos deixou, e que a cada geração é ressignificado sem perder a essência que é humildade, respeito e sabedoria. 

É muito comum ver nas comunidades de candomblé “mais velhos” retendo conhecimento, pessoas que acreditam que se dividir perde, quando na verdade ao compartilhar o grupo (ègbé) ganha e portanto todos são beneficiados. Assim como sempre existem aqueles que por excesso de boa vontade, acabam falando sem propriedade o que também prejudica o processo. Com isso, entendemos que encontrar o equilíbrio e transmitir apenas aquilo que se tem segurança é o caminho mais prudente e aconselhável. 

Não coloque o lado pessoal a frente da sua espiritualidade, não é porque você não se relaciona bem com aquele determinado irmão que não vai dividir o que aprendeu, existe um motivo para que você tenha o seu caminho espiritual em comum com ele, aprenda com isso, tenha empatia por quem está aprendendo, e não importa o quanto foi doloroso adquirir aquela “palavra’, pois muita gente usa dessa desculpa para não ensinar, faça seu sacrifício valer a pena, melhore o caminho do irmão e todos podem avançar em busca de novos conhecimentos, isso é evolução.

Muito asé,
Bàbá Diego de Odé
Bàbálorisá do Ilè Asé Ègbé Lajò – Itapevi, SP. 





segunda-feira, 23 de agosto de 2021

O que significa o orunkó


Orunkó é um termo yorubá que determina o “nome”, e não se deve confundir com a “djina” do povo da nação do Angola, pois são tradições diferentes. 

O orunkó é o nome do orisá para a grande maioria das casas, mas durante esses anos eu observei que ele é muito mais do que isso e vou dividir com vocês a minha visão.


O orunkó, na minha opinião, é o encontro do nosso eledá (destino) com o orisá, é a luz que iluminará a nossa existência a partir daquele momento e o seu significado rompe maldições, dando ao iniciado (iyáwò) uma nova direção. 


Percebi que os nascidos com orunkó finalizado em ayó (abundância) precisam buscar felicidade em tudo que fazem, já os finalizado com omi (água) tem como desafio a adaptação e emoção, assim como os finalizados em lewà (beleza) precisaram enxergar a vida com beleza e encantamento para que os caminhos se abram.


O “nome do iyáwò” é feito em sua maioria em rituais fechados, apenas com a família de santo e convidados e o “padrinho de orunkó”, que é a pessoa que vai “tirar o nome” como falamos, é de grande importância na vida no neófito e a testemunha daquela iniciação. 


Não costumamos divulgar esse nome (orunkó) antes da obrigação de sete anos (odún èje) do filho, pois ele ainda está em processo de “feitura”, afinal até lá, ele é apenas iniciado, mas após esse processo não há mal em um irmão saber o orunkó do outro assim como a sociedade como um todo.  Existe toda uma mística que quem conhece seu nome pode fazer algo de mal para você, mas eu acredito que tudo que compõe o mistério do seu orisá como “qualidade”, comida específica, visões, entre outros não podem ser citadas conversas informais ou banalizadas.  


Eu sempre tomo muito cuidado em falar sobre rituais, pois cada casa tem sua maneira de enxergar, mas o orunkó é a nossa marca nessa terra e um dia, conforme nosso merecimento ser torna um esá (honra). O que é comum é que, esse é o dia do nosso batismo dentro do asé e que esse nome é imutável, a não ser nos casos de mudança de nação de candomblé. 


Uma excelente semana,

Bàbá Diego de Odé 

(11) 4141-0167

sábado, 21 de agosto de 2021

7 Sinais que você está preparado para ser um ègbón

Ser um “mais velho” no candomblé implica em uma série de responsabilidades e posturas condizentes com os anos de aprendizado e dedicação que levam um iyáwò a ser de fato uma pessoa “feita no santo”, como popularmente falamos.


Eu listei sete sinais importantes de maturidade espiritual, pontos esses que podem e serão desenvolvidos sempre dentro da vida de candomblé. 


1 - Ninguém precisa te cobrar. 

Você tem responsabilidade, sabe seu lugar e o que pode ou não fazer dentro do Asé, sem que para isso alguém precise te cobrar.


2 - Respeita e orienta seu mais novo. 

Não é preciso tomar obrigação de sete anos (odún èje) para contribuir com a vida do seu àbúrò.


3 - Saber a hora certa de perguntar. 

Faz parte do amadurecimento espiritual saber a hora certa de cada coisa, inclusive de tirar suas dúvidas ou questionamentos.


4 - Não avalia os irmãos pelo que são fora da casa. 

Um bom “vodussi” não exerce julgamentos dentro da roça sobre a vida do alheio, pois sabe que o que importa é o que ele é como omo-orisá.


5 - Preza pela paz. 

Uma pessoa que se envolve constantemente em confusões e fofocas certamente não está pronto para ser um mais velho, pois se quando era “criança” já causava, imagine só agora como “adulto”. 


6 - Hierarquia.

Entende que a hierarquia existe para organizar e não para ser arma de humilhação. 


7 - Busca aprender. Conhecer e estudar não ajuda apenas a você, mas também no preparo para que você auxilie seu bàbálorisá ou iyálorisá nos ritos dentro e fora do Asé, saber um orin-ewè (sassanhe), orin-ori (cantiga de bori), responder um àdúrà é muito importe. Para isso conte também com seus mais velhos.


Ẹ káàró! E muito Asé.


#candomblé #seteanos #babadiegodeode

quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Quando devemos mudar de “Asé”?

Esse é um dilema que muita gente passa, principalmente com o número de casas de candomblé aumentando exponencialmente, e as dúvidas são sempre as mesmas, como e quando é a hora de começar uma nova história?


Em primeiro lugar nunca devemos ver essas mudanças com naturalidade, pois envolve laços familiares e ancestrais. Precisamos entender que, você sempre pertencerá ao lugar onde foi iniciado, independente para onde você siga.


Obviamente não é sempre escolha do filho, há casas que após falecimento do zelador (a) fecha, problemas de convivência e as mudanças que podem ocorrer nesse percurso.


Em primeiro lugar se pergunte: Qual foi a minha motivação para fazer parte dessa casa de orisá? O que eu busco como religião e qual a motivação em continuar? 


Depois faça uma reflexão sobre os valores, se o ambiente é saudável, se você está conseguindo se desenvolver e seja sempre transparente com quem cuida de você não se isentando das suas responsabilidades com o Asé, pois não adianta ser um filho que não participa, não ajuda, não assume o compromisso com a casa e querer apontar o que está ou não certo. 


Acima de tudo tenha bom senso, gratidão e priorize o orisá. Deixe seu ego de lado e nunca se esqueça que há um propósito para todas as coisas, inclusive para nascer para o orisá. 


Com as bençãos de Oxóssi, ótima quinta-feira ! 🏹🙏🏻💙

quarta-feira, 18 de agosto de 2021

10 coisas que você precisa saber antes de se iniciar no candomblé


1 – É um laço eterno com a ancestralidade. A partir do momento que você é iniciado terá a responsabilidade de honrar com o seu juramento, tanto com o céu, quanto com a terra.


2 – Acreditamos no Ori (cabeça, guardião, inteligência). Durante seu desenvolvimento como omo-orisá uma das dicas mais importantes é aprender a separar o “eu” do orisá, ambos vivem juntos, porém o “eu” protege sempre o agora, o imediato e o orisá preserva a sua evolução a longo prazo.


3 – Você ganhará uma nova identidade. Independente da cor da sua pele, você deve conhecer no mínimo a história do seu povo africano. 


4 – Hierarquia é a base da nossa religião. Portanto você vai precisar de longos anos ouvindo e aprendendo para levantar e ensinar.


5 – Nem todos vão concordar com a sua decisão. Por uma questão histórica, o candomblé é visto por muitos como uma religião marginalizada e até confundida com satanismo e outras ordens que não tem nada a ver com o que pregamos.


6 – Existe preceito. Por isso é importante saber quais são os interditos antes de se iniciar. 


7 – Não existe teoria sem prática. Você pode ler mil livros que trate de candomblé, mas por essência, nossa fé é para ser sentida. 


8 – Você ganha uma nova família. Esse pode ser um dos maiores desafios de um iniciado no candomblé, pois conflitos de personalidade, afinidades e tudo que compõe o comportamento humano faz parte do nosso cotidiano. 


9 – Orisá é caminho. Um filho do candomblé terá a sua vida transformada e, muitas vezes, pelo caos. Isso acontece também pela nossa herança ancestral, somos descendentes de homens e mulheres fortes e resistentes que enfrentaram a vida de cabeça erguida. 


10 – Reclamação é o maior “contra-asé”. Se você acredita no que você carrega e no que foi despertado na sua vida, tem que ter a confiança de que tudo que acontece ou vai acontecer faz parte do seu desenvolvimento e evolução. Murmurar é um sinal de falta de fé e confiança.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

Como Ser Um Babálorixá


Muita gente me pergunta como se faz para ser babálorixá ou iyálorixá, qual o caminho que devem percorrer, que conselhos eu daria e etc. Em primeiro lugar temos que entender que ser um líder religioso requer dom e realmente ser escolhido pelos Orixás, o que não significa que apenas a “inclinação” basta, se você não for lapidado, se não aprender e adquirir experiência, será apenas um talentoso perdido e pode até encontrar seu caminho, mas será muito mais difícil, então siga uma casa de axé, se dedique a buscar conhecimento tanto teórico quanto prático, pois ambos são importantes para guiar seus futuros filhos e para fortalecer sua armadura contra a inveja, a fofoca e a difamação.
Quando você ouvir dizer que o Orixá prepara os escolhidos, tenha em mente que a vida de um sacerdote não será apenas roubas bonitas, casa cheia, uma agenda semana lotada de atendimentos e viagem internacionais, isso tudo é consequência de muita luta, pois teremos que lidar com o que há de mais delicado nesse mundo, GENTE. Iremos conviver com todo tipo de temperamento e você vai precisar se fazer ser entendido, pois para cada um o Orixá irá se demonstrar de um jeito e é sua tarefa orientar e buscar sempre uma direção para o outro, enquanto também terá a responsabilidade de tomar conta do bem coletivo e da sua própria vida, que não vai parar.
Um conselho que eu me daria há dez anos atrás é que pensasse bem na hora de escolher uma liderança, pois nem todos os zeladores do Candomblé conseguem lidar com um “filho-zelador”, existe ainda muito ego e concorrência, mas isso não é da religião e sim do ser humano. Outro conselho seria que não misturasse a vida pessoal com a religiosa, mas isso aprendemos com as pancadas da vida, pois a pior besteira que um pai de santo pode cometer é chorar no ombro de um filho ou abrir demais sua intimidade, não são todos, mas a maioria das pessoas não conseguem entender o limite entre liberdade e libertinagem.
Acima de tudo, tenha amor por sua fé, pense bem antes de agir, antes de falar, pois você é um formador de opinião e não e apenas o seu nome que está em jogo, mas também de toda uma ancestralidade. Não pule etapas, se tiver que refazer algo ou errar, seja sincero e busque sempre fazer o melhor que puder, pois será isso que o Orixá irá ver, seu coração.
Muito axé e que Olorun esteja sempre com você!

Sobre abikú

 Salve, salve leitores do Terra dos Orixás, a muito tempo eu não escrevia, mas decidi voltar a dividir o meu cotidiano e pesquisas com vocês...